As temperaturas máximas previstas para cidades da área de cobertura do g1 Piracicaba e região devem se aproximar dos 40º C entre este sábado (23) e a próxima segunda-feira (25). O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) do Ministério da Agricultura de Pecuária emitiu alerta de grande perigo e risco à saúde devido à onda de calor que atinge todo estado de São Paulo e de perigo potencial para baixa umidade do ar no período entre os dias 18 e 26 de setembro.
As altas temperaturas podem ocasionar desidratação e insolação e, ainda, elevar os riscos de AVC e infarto em pessoas com comorbidades e quadros pré-existentes de hipertensão e diabetes, por exemplo, de acordo com profissionais da Saúde. Leia na reportagem, abaixo, sobre as precauções e os efeitos o estresse térmico acarretam ao organismo.
O conversou com a médica reguladora do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Piracicaba (SP), Giordana Vilas Boas. A especialista, que é pós-graduada em medicina de emergência e também atua como médica no Posto de Saúde da Família (PSF) Monte Líbano 2. O estresse térmico pode evoluir para casos graves.
A médica menciona o estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade de Bologna na Itália, intitulado “O efeito da temperatura do ar na mortalidade por doenças cerebrovasculares no Brasil entre 1996-2017” e publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva no ano passado.
O trabalho investigou a relação entre temperatura do ar e mortalidade por doenças cerebrovasculares (DCV) em dez microrregiões nas cinco grandes regiões brasileiras.
Quais são os efeitos das temperaturas no organismo e como isso pode afetar a saúde?
A médica Giordana Vilas Boas alerta que as altas temperaturas podem ocasionar um estado de desidratação no organismo:
“Ocorre uma dilatação dos nossos vasos sanguíneos que podem baixar a nossa pressão, gerando um mal estar importante, além de, ressecamento da pele e dos olhos, lesão muscular e um maior esforço cardíaco para compensar o gasto energético demandado. Esse estresse térmico pode evoluir a um estado grave de perda da capacidade de regular a nossa temperatura corporal através do suor”, explica.
A partir de quais temperaturas do ambiente o nosso corpo já começa a sentir esses efeitos?
“Na verdade não existe uma temperatura especifica do ambiente que cause esses sintomas. Há estudos que apontam que o risco é muito maior quando a temperatura chega aos 42°C. Mas, o que se leva em consideração é a exposição prolongada ao sol e altas temperaturas sem os devidos cuidados de proteção e hidratação”, pontua.
“Estamos passando por uma onda de calor onde as temperaturas permaneceram extremamente altas, próximas de 40°C até a próxima terça-feira 926), sendo ainda mais importante manter uma boa hidratação”, alerta a profissional da Saúde.
Quais são os principais sintomas?
“Quando há exposição prolongada ao sol e altas temperaturas sem reposição de líquidos adequada, o paciente pode desenvolver exaustão pelo calor, apresentando:
- transpiração intensa
- cansaço
- câimbras
- dor de cabeça
- náuseas
- vômitos e desmaios
“A pessoa pode progredir a um quadro grave de insolação, que culmina com sintomas de piora dor de cabeça, tontura, pele vermelha, quente e seca, temperatura corporal acima de 39,5°C, confusão mental e até convulsão”, descreve a doutora Giordana.
Os sintomas são repentinos? Como identificá-los?
“O quadro pode iniciar com um mal estar e progredir, sim, rapidamente para a insolação. Dependendo da sensibilidade da pessoa ao calor, ela pode começar a apresentar a sentir mal-estar, náusea, sensação de desmaio e isso pode progredir muito rápido para uma dor de cabeça extensa e tontura. O que marca a insolação é o aumento da temperatura corporal em cerca dos 40ºC”, relaciona.
“Isso acontece porque a pessoa para de transpirar e perde a capacidade de regular a temperatura do corpo através do suor e começa a esquentar de maneira exacerbada com possibilidades de evolução para quadros de convulsão, perda da consciência e até mais grave, levando a óbito”, alerta.
O que fazer em caso de sintomas?
“Quando você se deparar com uma pessoa nessas condições de exposição a altas temperaturas, é importante abrigá-la à sombra, em local arejado e mais frio. Pedir a terceiro que chame o serviço do SAMU para transporte do paciente até a UPA porque ele vai precisar receber medicações”, aconselha.
“Oferte água gelada e tente resfriar o mais rapidamente a temperatura corporal da pessoa, com uso de compressas geladas e banho frio para amenizar o quadro até que a equipe de emergência chegue ao local do socorro”, acrescenta a profissional.
As altas temperaturas podem oferecer riscos maiores à saúde de pessoas com hipertensão, diabetes, quadros de doenças respiratórias?
O grupo de maior risco são idosos, gestantes e crianças, pois nem sempre eles manifestam sede e a ingestão de água acaba sendo menor, ressalta a médica Giordana Vilas Boas. “Pessoas com comorbidades respiratórias como asma, bronquite, rinite alérgica, devido o tempo seco, podem ter exacerbação dos sintomas e piora dos quadros”, ressalta.
Hipertensos e diabéticos que fazem uso de medicações continuas tem que manter suas medicações em local arejado e sob abrigo do sol, aqueles que fazem uso de diurético para a pressão arterial, devem ter cuidado redobrado com a hidratação.
As altas temperaturas aumentam riscos de AVCs e infartos?
“Sim. Com a desidratação, a viscosidade do sangue aumenta, os vasos sanguíneos dilatam e a frequência cardíaca se eleva, gerando um maior esforço cardíaco. Aumentando, assim, o risco de um AVC e infartos, em especial, nos hipertensos e diabéticos”, explica.