Coronavírus

Delta avança no Brasil, mas gama continua sendo a variante predominante; veja o que se sabe

Quase três meses depois de os primeiros casos da variante delta terem sido identificados no Brasil (tripulantes de um navio que chegou ao Maranhão), persiste o temor (e a dúvida) sobre qual será o impacto da versão mais transmissível do Sars-Cov-2 na pandemia no país.

Abaixo, em 7 tópicos, acompanhe o que sabemos (ou ainda não) sobre a delta:

  1. Qual é a variante considerada predominante no Brasil?
  2. Existem números confiáveis que indiquem qual é a presença da delta no país?
  3. Quais os fatores por trás do atual ritmo de avanço da delta no Brasil?
  4. O que se sabe sobre a situação da variante delta nos estados?
  5. A variante delta é mais transmissível? Quais os sintomas?
  6. Como podemos nos proteger?
  7. Vacinas funcionam contra a delta?

1 – Qual é a variante considerada predominante no Brasil?

A variante predominante segue sendo a gama (P.1). Não há dúvidas sobre o avanço da delta no Brasil, mas especialistas apontam que esse dados ainda precisam ser analisados com cautela. Apesar do número de casos estar subindo, ainda não há um surto da variante, como ocorreu em outros países.

“O que temos é a transmissão interna da delta, está tendo a expansão do número de casos, mas a predominância ainda é da variante gama”, explica Ricardo Khouri, pesquisador da Fiocruz e professor de imunologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Ele lembra que, enquanto a preocupação com a delta cresce, a gama está mutando e isso deve ser visto como um alerta. “É importante manter a vigilância [com a delta], mas não significa que a delta já se expandiu e tem uma predominância no nosso país.”

2 – Existem números confiáveis que indiquem qual é a presença da delta no Brasil?

Dados da Rede Genômica da Fiocruz apontam que, entre os sequenciamentos de amostras feitas pelo sistema no país, a delta corresponde a 22,1% dos casos sequenciados em julho (mais do que 1 em cada 5 casos). Em junho, o total era de 2,3%. Entretanto, o total de sequenciamentos é desigual no Brasil. Enquanto, por exemplo, São Paulo fez mais de 10 mil, o Piauí analisou apenas 19.

“A grande maioria das amostras sequenciadas da variante delta foi no Sudeste e pode haver viés de amostragem devido a busca ativa de casos suspeitos de infecção pela delta”, explica o pesquisador.

O pesquisador da Fiocruz explica que estamos tendo a sensação de alta prevalência da delta por causa do foco do sequenciamento no Brasil. “O sequenciamento está todo voltando para essa variante. Daí é como se a gente tivesse um grande surto de delta nesse momento já, mas ainda não está acontecendo. O que temos é a transmissão interna, está tendo a expansão do número de casos, mas a predominância ainda é da variante gama”, alerta Khouri.

3 – Quais os fatores por trás do atual ritmo de avanço da delta no Brasil?

A delta encontra uma concorrente muito forte no Brasil – a gama. Por isso, ainda não é possível afirmar que ela ser a variante dominante no país.

“Quando a P.1 [gama] surgiu, a P.2 [variante encontrada no Rio de Janeiro] já estava disseminando amplamente pelo país. A P.1, em pouco mais de três meses, foi capaz de sobrepor completamente a P.2 e ocupar o território nacional, apagando praticamente todo o sinal da P.2. No mesmo período que a gama começou a se distribuir pelo país, entrou a alfa. As duas tinham forças muito similares e a alfa não foi para lugar nenhum”, diz Khouri.

Para ele, é preciso levar em consideração alguns contextos do país antes de dar o protagonismo para a delta:

  • O Brasil teve uma transmissão da Covid-19 muito maior do que na Inglaterra, por exemplo. Isso reduz, de certa forma, o número de pessoas vulneráveis que pode ser infectada.
  • O cenário no Brasil é de alta transmissibilidade da gama, com evolução dessa variante com outras mutações.
  • A delta chega ao Brasil em um momento que mais de 50% da população já está vacinada com pelo menos uma dose.

“A delta é forte e está se expandindo pela capacidade de virulência que ela tem, mas ainda há dúvidas se ela vai conseguir impor a mesma quantidade de transmissão que ela impôs na Inglaterra, nos Estados Unidos. O Brasil já tem um contexto preocupante com a gama, que dominou todo o território nacional rapidamente”, explica Khouri.

Para Renato Kfouri, infectologista da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a gama pode estar barrando essa alta performance da delta no Brasil.

“Nos outros países onde a delta está entrando e se tornando a protagonista, ela não encontrou concorrente à altura como o Brasil. Aqui ainda temos uma alta circulação da gama. O cenário é diferente, a concorrência ecológica é diferente e não sabemos se ela terá a mesma performance, mesmo desempenho que teve nos outros países”, explica Kfouri.

Khouri ressalta que os radares precisam continuar ligados na delta e que o Brasil precisa sequenciar mais, para que, à medida que os pesquisadores forem identificando a expansão, o país possa estabelecer barreiras para conter a transmissão.

4 – Qual a situação da variante delta nos estados?

Segundo o Ministério da Saúde, 41 óbitos foram confirmados para a delta e 1.020 casos da variante foram identificados e notificados no país até o dia 16 de agosto:

  • 2 casos em Alagoas
  • 16 casos no Ceará
  • 87 casos no Distrito Federal; 2 mortes
  • 7 casos no Espírito Santo
  • 14 casos em Goiás; 1 morte
  • 7 casos no Maranhão; 1 morte
  • 12 casos em Mato Grosso
  • 11 casos em Minas Gerais
  • 3 casos no Pará
  • 56 casos no Paraná; 19 mortes
  • 14 casos em Pernambuco; 1 morte
  • 431 casos no Rio de Janeiro; 7 mortes
  • 93 casos no Rio Grande do Sul; 9 mortes
  • 36 casos em Santa Catarina; 1 morte
  • 231 casos em São Paulo

No entanto, se formos considerar que falta ao Brasil um sequenciamento genômico em massa, o número pode ser ainda maior.

“A partir do momento em que você detecta a circulação interna, esse número pode ser maior do que o que o Ministério da Saúde divulga, sem dúvidas”, explica Khouri.

O último relatório da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, publicado na segunda-feira (16), apontou que a delta já é a variante mais encontrada nas amostras coletadas do estado. Segundo o órgão, a delta está substituindo a gama no Rio.

Já a prefeitura de São Paulo concluiu que, dos 40 casos analisados na cidade, apenas três pessoas estavam com a imunização completa. Os dados foram divulgados na semana passada.

5 – Delta: mais transmissível? Quais os sintomas?

A delta foi identificada pela primeira vez na Índia, em outubro do ano passado. Em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta importante: a variante tem se tornado dominante em todo o mundo, muito por conta da sua transmissibilidade. De acordo com o último boletim epidemiológico da entidade, divulgado no dia 11 de agosto, 142 países já identificaram a circulação da delta.

No entanto, apesar de ser mais transmissível (assim como as outras variantes que surgiram), ainda não há como afirmar que ela também é mais letal.

“Ainda não há comprovação que as variantes, inclusive a delta, tenham uma taxa de virulência maior entre os infectados. O que acontece é que, como elas são mais transmissíveis, há chances da população, caso infectada, desenvolva a doença, seja casos leves, moderados ou graves”, explica Renato Kfouri, infectologista da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Sobre os sintomas, especialistas explicam que eles podem ser confundidos com os da gripe. Tanto a gripe quanto a fase inicial de infecção pela variante delta podem estar associadas aos seguintes sintomas: dor de cabeça, mal estar, coriza, dor de garganta e febre.

6 – Como podemos nos proteger?

Não tem muito segredo. É preciso combinar as medidas não farmacológicas com a vacinação.

As medidas não farmacológicas são eficazes contra a cepa original e contra todas as variantes. Por isso, é importante continuar usando máscaras (de preferência a PFF2), manter o distanciamento social, evitar aglomerações e manter a higiene das mãos.

Aliado a isso, a vacina é extremamente necessária para quebrar a cadeia de transmissão. E não vale apenas uma dose. É preciso completar o esquema vacinal.

“Enquanto eu não tiver um cinturão de proteção muito sólido no entorno da população que preciso proteger, a probabilidade de variantes que vão escapar é alta. Como eu faço para bloquear? Imunizar, ter drogas antivirais (ainda não temos) e, em paralelo, as medidas não farmacológicas e a testagem em massa”, alerta Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas.

“Precisamos vacinar cada vez mais, garantir a segunda dose, para conter essa transmissão da variante para não termos repique dessa transmissão mesmo entre vacinados. Controlando a expansão das variantes, o efeito da vacina vai ficar ainda mais marcante”, completa Khouri.

7 – Vacinas contra a delta: funcionam?

Sim. No começo de julho, dados preliminares divulgados pela Johnson apontaram que a vacina da Janssen é eficaz contra a delta.

Um outro estudo, publicado no Reino Unido, também apontou efetividade da Pfizer e AstraZeneca contra a variante. Os pesquisadores reforçaram que a segunda dose é muito importante para atingir uma eficácia boa.

Com o ciclo completo, a eficácia da AstraZeneca chega a 67%, com resultados entre 61,3% a 71,8%. Já no caso da Pfizer, chega a 88%, com variação entre 85,3% a 90,1%.contra a delta.

No final de julho, o Instituto Butantan, parceiro da fabricante da CoronaVac no Brasil, anunciou o início de estudos para avaliar se o imunizante é efetivo contra a delta. G1