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Ranking revela profissões com maior desigualdade de salários mínimos entre homens e mulheres

Números de um levantamento feito pela plataforma Quero Bolsa quantificaram um problema visto pelas mulheres em seus contracheques há tempos. A partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a empresa elaborou o ranking das dez profissões de nível superior, no estado do Rio de Janeiro e em todo o Brasil, em que mais há diferença no valor de salários pagos a trabalhadores dos sexos feminino e masculino, com vantagem para os homens.

Para a organização da lista, foram somados todos os salários das contratações formais ocorridas ao longo de 2018 e, então, calculada a média dos vencimentos para cada ocupação de acordo com o sexo. Não entraram na conta, portanto, a renda de profissionais liberais, que atuam no mercado sem carteira assinada. Também não foram consideradas as funções de professor, devido às diferentes jornadas de trabalho, nem as quantias pagas a gerentes e diretores de empresas.

— Sempre soubemos que há desigualdade nos salários de homens e mulheres, mas é importante mostrá-la em números para que as pessoas tenham proporção do fato. A conscientização faz com que as disparidades sejam questionadas, e isso abre caminho para que o problema venha a diminuir — avalia o gerente de Relações Institucionais da Quero Bolsa, Rui Gonçalves.

Em 25% das contratações feitas no ano passado, foram ofertados valores superiores às mulheres em relação aos homens, segundo o levantamento. Porém, quando o ganho salarial é maior para elas, o percentual da diferença favorável não é tão expressivo e nunca chega a 100%, como visto na situação contrária.

Perda de produtividade para o país

Para o economista Daniel Duque, pesquisador do FGV IBRE, uma possível causa para a desigualdade salarial entre os sexos é o fato de as empresas preferirem contratar homens a mulheres — sobretudo devido à licença-maternidade, que encarece o trabalho feminino. Com menos empregadores escolhendo mulheres para cargos mais altos, a média salarial delas cai.

— Uma das consequências é a queda da produtividade no país. Se as empresas estão alocando mal os trabalhadores nos cargos, optando por homens mesmo havendo mulheres mais qualificadas, isso gera ineficiência que, quando agregada, resulta em perda de dinheiro — explica Duque.

A menor presença das mulheres no mercado de trabalho também impede o ganho de renda per capita no Brasil.

Preconceito atrapalha a carreira delas

Em mais de 15 anos de trabalho na iniciativa privada, a engenheira ambiental e sanitária Karla Ayres, de 45 anos, viveu o que retrata o ranking. Nunca ocupou um cargo de chefia, tampouco teve uma gestora mulher. Ver-se em segundo plano quando havia uma chance de promoção a fazia se sentir desmotivada.

Karla Ayres é engenheira ambiental

— Era inevitável comparar os salários, porque eu conversava com os colegas homens sobre o assunto. Ganhava menos do que eles para desempenhar a mesma função com a mesma carga horária — conta Karla, que pela primeira vez na carreira exerce um cargo de chefia: hoje, ela atua como diretora de licenciamento e fiscalização ambiental da Prefeitura de Mangaratiba.

A engenheira acredita que os homens se protegem no mundo corporativo, em uma espécie de “Clube do Bolinha”.

— Sempre trabalhei em empresas grandes e multinacionais. Eu me capacitava para concorrer igualmente, me esforçava ao máximo, via que tinha melhor rendimento, mas meu empenho não era levado em conta nas promoções. Não adianta a mulher questionar e argumentar que é mais produtiva. Só que nós investimos mais do que eles em qualificação, e isso está começando a ficar mais evidente no mercado de trabalho. Creio que a existência de mais cargos técnicos favorecerá a mão de obra seleta. Pelo menos no setor público, tenho visto certa mudança para valorizar a competência — diz.

Engajamento em projetos pela igualdade

De acordo com a psicóloga Jacqueline Resch, sócia e consultora da Resch RH, as mulheres que se sentem prejudicadas no mercado por receberem remunerações mais baixas têm duas saídas, uma de caráter individual e outra de cunho coletivo.

— É preciso entender a cultura da empresa onde se trabalha e verificar se os gestores estão mobilizados para equacionar essa distorção. Se houver projetos para corrigi-la, é importante contribuir ativamente para a execução deles. Caso as chances sejam pequenas onde se está empregada, a alternativa é mapear as organizações que valorizam a diversidade e já implantaram políticas para garanti-la e buscar colocação nesses lugares — orienta.

Jacqueline Resch diz que as mulheres podem buscar alternativas

A via coletiva passa pela articulação a organismos que lutam pela causa e pelo engajamento em ações que visam sensibilizar as empresas para o valor da equidade de gênero, ressalta Jacqueline Resch.

— Os papéis de gênero que atribuem às mulheres os cuidados com a casa geram a percepção de que elas são menos produtivas. Temos que nos encaminhar para a redução dessa discriminação, mas a mudança da cultura é sempre um caminho mais lento — diz Daniel Duque.

Possíveis soluções

Segundo o economista Daniel Duque, igualar a duração das licenças maternidade e paternidade pode reduzir a desigualdade de gênero nas empresas, já que o custo do afastamento de mulheres e homens não seria diferente. O pesquisador afirma ainda que estudos mostram que o aumento da oferta de creches gratuitas eleva a participação feminina no mercado de trabalho.

Para Jacqueline Resch, critérios técnicos e objetivos devem guiar as políticas e as práticas de remuneração nas empresas.

— Profissionais com o mesmo nível de experiência e conhecimento devem ter salários equivalentes. Gênero por si só não pode definir diferenças salariais — destaca.

Ter um sistema de aumento fixo para promoções está entre as principais ações das empresas para diminuir a diferença salarial entre homens e mulheres, apontou pesquisa global feita em 2016 pela consultoria Robert Half.

 

Fonte: Extra

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